VIDAS SUSTENTADAS PELA FÉ
A espiritualidade pode ajudar na recuperação de doenças? Uma pessoa religiosa pode ser curada com mais facilidiade do que outra que não tem fé?
Certamente as respostas para essas perguntas são relativas e variadas. Mas as histórias de vida aqui apresentadas indicam como a espiritualidade interfere positivamente na recuperação da saúde e, mais do que isso, em como vidas são sustentadas pela fé.
Nos capítulos a seguir contaremos a história do Mário, da Dulce, da Katia e do Fausto. São experiências únicas, embora não incomuns. Cada um deles, em sua religião, com seu modo de crer, conseguiu na espiritualidade um incomparável apoio de vida. E utilizam da fé para ajudar os outros.
Um cristão católico, uma umbandista, uma espírita e um benzedor. Experiências religiosas diferentes, resultados parecidos. Relatos de médicos e psicólogos, lideres religiosos e, principalmente, de quem garante ter a vida sustentada pela fé.
Eu pedi e Deus me deu
“Jesus disse: Vai, a tua fé te curou” (Mc 10,46)
- "Fiz um propósito. Não vou mais trabalhar. A vida é tão curta. Vou começar ser mais firme na religião. Pra começar vou ter que ir na missa todos os dias."
Essa foi a decisão tomada por Mário Luiz Sponchiado, aposentado de 71 anos, em meio ao tratamento que precisou passar para superar um câncer de esôfago. Com o semblante marcado pela luta que travou por vários anos e pela emoção ao falar de sua cura, Mário demonstra a importância da fé em sua história.
Veja o breve relato no vídeo:
Como o próprio Mário diz, ele era um católico de pouca vivência religiosa. Fazia suas orações esporadicamente, algumas promessas, ia na missa no domingo pela manhã, com pouca frequência e quase nada entendia. Ficava mais esperando a hora passar pensando no churrasco que prepararia em seguida.
Até que em 2010 passou por um momento de grande sofrimento junto com sua família. Perdeu um filho em acidente de trânsito. Na tristeza, Mário encontrou na espiritualidade uma forma de enfrentar o vazio que a perda deixou.
- "A oração foi a forma que encontrei para superar a perda do filho. De dia até passava, mas de noite, quando me acordava, vinha a lembrança. Então o que fazer? Era pegar o terço e rezar. Rezar".
A partir disso, este pai que chorava a ausência do filho foi se habituando a oração constante. Hábito que foi aprofundado com outros sofrimentos que vieram. Dois anos após a perda fatal, outro acidente de trânsito veio marcar a vida dessa família.
Já começando a se envolver em atividades da Igreja, Mário, que sempre morou em Frederico Westphalen, estava em Passo Fundo, de onde iria embarcar para um encontro do Movimento Serra em Aparecida - São Paulo. Ali foi a vez dele mesmo ser a vítima. Em uma colisão de seu carro Mário teve como consequência a fratura de uma vértebra da coluna e esmagamento de outra.
Com essa fratura, teve que ficar seis meses “de molho”. Apesar do sofrimento e do perigo de não ter uma plena recuperação, foi um tempo visto com aspectos positivos. - "Com o tempo livre li muitos livros religiosos. Lia bastante a Bíblia. Rezava bastante pois era uma saída que encontrava".
Precisando ficar em Passo Fundo, Mário se aproximou de um colega do Movimento Serra chamado Nelson, que o acolheu em sua casa para o tratamento necessário. Nelson era tesoureiro do Hospital São Vicente. Isso foi visto por Mário como providência para a batalha que viria a enfrentar mais tarde, na qual o amigo ajudou bastante pela facilidade de acesso ao Hospital, referência de tratamento de saúde na região.
O problema na coluna fora apenas uma prévia do que viria. Em 2013, ainda não bem recuperado da perda do filho e da fratura sofrida, em tratamento com o Dr. Paulo Savaris, em Frederico Westphalen, Mário recebeu a drástica notícia de que poderia estar com câncer no esôfago.
Acompanhe no vídeo o que o médico diz a respeito desse caso e da importância da fé no tratamento:
"Então o que fazer? Era pegar o terço e rezar. Rezar..."
-Mário Luiz Sponchiado
Assim o tratamento foi feito. Com significativos progressos. Até poder fazer a cirurgia para retirada do tumor. Cirurgia de risco, mas necessária. Era a esperança de cura. O paciente estava debilitado, tinha perdido ao menos 10 Kg.
Aproximava-se o dia da cirurgia. Mário foi encaminhado para um quarto no Hospital São Vicente. Mas, o quarto em que ele iria estava ocupado. O que para muitos teria sido um erro na organização do hospital, para Mario, agora um homem de bastante fé, foi também uma providência de Deus. Pois ele foi encaminhado para outro quarto, em outro andar do hospital. Justamente no andar onde o padre capelão do hospital, naquele dia, fez as visitas. Era o dia anterior a cirurgia.
O padre fez a oração, invocando a benção e a proteção de Deus para a cirurgia. Mário também quis se confessar. E diz o quanto isso lhe fez bem: - "Isso me ajudou. Naquele momento fiquei bastante tranquilo. Por mais que tu acredita, que reza... dá um frio, o risco existe. Mas fiquei tranquilo".
Essa tranquilidade foi fundamental. Contudo, na cirurgia, quase ocorreu uma fatalidade.
Ouça o áudio em que o próprio Mário relata o que aconteceu e o quanto sua experiência de fé fez a diferença:
O encaminhamento do tratamento, biópsia e demais exames foi feito em Porto Alegre. A expectativa e a esperança era poder fazer cirurgia e não deixar o câncer “crescer”. E o Mário precisou começar a enfrentar aquele que para ele era o mais difícil dos inimigos, como ele mesmo pensava: - "Antes de eu ficar doente eu dizia: se a pessoa tem câncer, tá decretada a morte. Se curou, não era câncer. Essa era minha teoria".
Por isso, antes de viajar, ele foi procurar um padre, no seminário, para fazer sua confissão. E assim fez, na capela, em frente ao Santíssimo Sacramento, o que para o Mário foi um sinal da benção de Deus para o tratamento que estava iniciando. Contudo, o começo não foi muito animador. Não foi possível fazer a cirurgia, o tumor já estava enraizado internamente no esôfago. Seria preciso fazer um longo tratamento. A previsão do médico foi de 50% de chance de recuperação.
Porto Alegre ficaria muito distante para o longo e desgastante tratamento necessário. Passo Fundo era mais próximo. Aqui a amizade com o Nelson, construída em função do acidente relatado acima, se tornou providencial. Todos os encaminhamentos para o tratamento seguir em Passo Fundo foram feitos. Marcadas radioterapia e quimioterapia. A hospedagem seria no amigo Nelson.
Mário demonstrou uma grande confiança, com maturidade. Entendeu que a fé não age de forma mágica, mas que contribuiu e pode ser decisiva no tratamento, gerando tranquilidade, paz de espírito, confiança, condições que ajudam muito na recuperação. Após um breve tempo de recuperação no hospital, a volta para casa. Também esse foi um momento difícil, o organismo sentindo o desgaste do tratamento e da cirurgia. - "Não foi fácil em casa. Estava mal. Tudo atrapalhava. O que me fazia bem era ficar na cama e rezar".
Começando a receber visitas, Mário sentiu também a força da fé dos outros. Era a oração de intercessão. Muitas pessoas iam até o enfermo dizendo que estavam rezando por ele. - "Isso a gente sente. Senti que tinha uma força, assim, que as pessoas rezavam por mim".
Esse foi o momento em que Mário fez o propósito citado no início dessa história. E cumpriu com o propósito assim que melhorou o suficiente para ir até a Igreja. A fé o ajudou a superar a doença, ao mesmo tempo que a doença o aproximou mais da fé. Inicialmente a missa escolhida foi a da tarde, 18h. Mas não foi um horário que tenha agradado. E como no propósito de missa diária não havia horário estipulado, o agora fiel devoto Mário passou a ir na missa da manhã, às 7h30min, na Catedral. Todos os dias.
E isso lhe fez muito bem. Passou a entender melhor o sentido da missa. A oração, até então quase sempre de pedido passou a ser mais de agradecimento. E quanto ao câncer, sentia que estava curado. Já queria “levantar aos mãos pra cima”, mas o médico pedia cuidados, dizendo que não podia, ainda, dizer que estava curado.
Realmente a preocupação do médico parecia ter sentido. Em 2018 exames apontaram problemas nos pulmões de Mário. Tudo indicava que seria novo câncer. Nova internação no Hospital São Vicente de Passo Fundo. Biópsia. Preocupação. Seria preciso passar por tudo novamente? Deixemos o próprio Mario dar a resposta, com toda a influência de sua fé: - "Então conversei com o Pe. Leonir, com o bispo, eles eram meus confidentes. Eles diziam: tua fé vai te curar, não vai ser nada. Fiquei esperando. Chegou o exame: eu não tinha nada".
No vídeo, acompanhe o que o bispo da Diocese de Frederico Wesphalen, D. Antônio Carlos Rossi Keller, conta sobre a história de fé do Mário e sobre a importância da espiritualidade para a saúde:
-"Mais ainda eu vou me agarrar em agradecer". Dessa forma Mario resume como se deu sua relação com a oração após tudo o que passou. Além da missa matinal diária, começou a rezar o terço antes da missa. Inicialmente sozinho, aos poucos outras pessoas foram se juntando a ele. E após a missa, fazia seu “roteiro” pessoal de devoção: Ia no Santíssimo, e também na Nossa Senhora, no Santo Antônio, e na pia batismal. Ia agradecer.
Com todas essas manifestações de fé, aquele que antes rezava mais por costume e precisou da oração dos outros, passou a ser procurado por muitas pessoas que ia lhe pedir orações. E ele rezava, com confiança. As experiência de perda e enfermidades fizeram ver o imenso valor da oração. Contudo, não foi só na oração que Mario cresceu. - "Quando decidi ir nas missas todos os dias, resolvi que precisava fazer obras também. Só rezar não adiantava".
Mario já dava contribuições esporádicas à instituições de caridade e religiosas. Mas depois de passar o que passou, começou a ver também isso de forma diferente. A partir de então dá contribuições mensais para a Liga de Combate ao Câncer e à Associação Frederiquense de Promoção do Menor (Promenor). Também ajuda no Seminário Diocesano.
Além disso, a pedido do bispo, ficou responsável pela organização da liturgia nas missas diárias da manhã, e também aos domingos, no Seminário. Não foi só a cura que Mario alcançou, foi também um novo sentido para sua existência.
Porém, ainda faltava o veredito final, a palavra do médico. Faltava “levantar as mãos pra cima”. E isso aconteceu em 2019. - "Em abril voltei lá pra Passo Fundo fazer mais um exame, conversar sobre minha saúde. Não tinha nada, estava tudo bem. O médico puxou minha história e disse: agora tu pode levantar as mãos pra cima".
Hoje Mario vive feliz e agradecido. Tem o compromisso do terço e da missa pela manhã, vive junto de sua família, ajudando a cuidar dos netos. E vê na sua cura bastante da mão de Deus, sem deixar de reconhecer a importância da medicina. Em sua definição um tanto matemática: - "A oração foi 50%, pelo menos. 50% foi a oração que me deixou bem, os outros 50% da medicina".
Enfim, Mario Luiz Sponchiado, após perdeu o filho, sofrer um acidente e superar um câncer, sente-se um vitorioso, pela força da fé: - "Estou curado. E vou agradecer mais ainda. Eu pedi, e Deus me deu, fez a parte dele. E eu estou aqui. Que eu seja útil pra alguém. Eu continuo, na minha fé".
"Que os Orixás o amparem, protejam e deem forças frente às demandas que se ergam em sua vida."
Dulce Joselita da Silva Coelho hoje com 52 anos de idade, descobriu aos 8 anos que era doente. Sentia muita dor nas costas e também foi comprovado através da medicina que na época ela tinha problema nos rins, hoje chamado de insuficiência renal, podendo ser aguda ou crônica. Sendo que a insuficiência renal aguda pode ser fatal e por isso requer um tratamento intensivo.
Os pais de Dulce na época procuraram muitos médicos, para entender o que era a causa e por que aos 8 anos Dulce estava doente. Em meio a isso foram feitos muitos exames. Até que um dos médicos, hoje falecido, mas que na época atendia em Frederico Westphalen, que disse que ela não tinha nenhuma doença e que os pais deveriam levá-la até um centro de Umbanda. Porém, na época seus pais relutaram em levá-la, pois não acreditam em tal solução.
Os pais de Dulce, sempre se consideraram católicos e frequentavam junto com a filha à Igreja Católica. Inclusive, como conta Dulce, sua mãe até fazia parte da Legião de Maria. Logo, quando o médico indicou que procurassem um centro de Umbanda eles discordaram e não quiseram, de início, seguir a orientação recebida. Até pela questão do preconceito existente para com a Umbanda. Foi somente quando ela tinha de 11 para 12 anos que decidiram ir atrás de procurar entender o que Dulce tinha e buscar uma solução para a filha doente.
Quando foram até o centro de Umbanda, foi identificado que ela era médium, e, portanto, precisava trabalhar fazendo o bem para o seu próximo. E foi o que fez. Começou a trabalhar na Umbanda e a desenvolver a parte espiritual. Isso passou a lhe fazer muito bem. Três meses depois, através de exames de sangue, se foi comprovado que ela havia melhorado.
Ela conta que demorou um pouco para compreender tudo o que se passava, pois ainda era muito nova. Mas no momento em que foram até o centro de Umbanda, tanto ela, como os pais e os irmãos, começaram a trabalhar, e isso os fez muito bem. Por isso, permanecem nessa prática até hoje.
Nesse tempo Dulce trabalhou em diferentes centros, até mesmo com seus pais durante anos. Mas foi a partir do ano de 2004 que lhe foi dada a oportunidade de ser Mãe de Santo, coordenadora de um centro de Umbanda da cidade de Frederico Westphalen. E permanece até hoje nessa caminhada, buscando sempre fazer o bem ao seu próximo.
SURGIMENTO DA UMBANDA
Para entender como surgiu a religião, é necessário entender primeiramente, que a Umbanda não era vista como modalidade religiosa, e que, o termo passa a ser visto como tal apenas a partir de 1904.
A Umbanda passou a ser vista como religião quando o caboclo das Sete Encruzilhadas, que se manifestou no médium Zélio de Moraes, dia 15 de novembro de 1908. Então foi anunciado em uma sessão kardecista o início da nova prática religiosa.
Zélio de Moraes com 17 anos passou a ter problemas mentais, que fizeram com que a família o encaminhasse para um hospital psiquiátrico. Mas os médicos não identificaram nada a partir dos sintomas que ele manifestava. Para tanto, foi sugerido à família que o levassem a uma igreja para um ritual de exorcismo. Novamente não resultou em nada. Então, após ser levado até uma benzedeira, ela identificou que Zélio possuía o dom da mediunidade, e recomendou que procurasse trabalhar fazendo caridade para com o seu próximo. (Oliveira, 2013)
Para buscar entender melhor sobre o que a benzedeira lhe disse, Zélio foi levado até a Federação Espírita de Niterói. Onde foi convidado a participar de uma sessão, quando um espírito incorporou em seu corpo e espíritos índios e pretos manifestaram-se também em vários outros médiuns.
Então no dia seguinte, na sua casa de Zélio (que agora havia entendido que era médium) se faziam presentes membros da Federação Espírita, parentes, amigos, vizinhos. Além de um grande número de desconhecidos, buscavam entender o que ali iria ocorrer.
Naquele dia 16 de novembro de 1908, as 20 horas, o caboclo manifestou-se no corpo de Zélio de Moraes e disse que “naquele momento daria início um novo culto, no qual os espíritos de africanos e de índios poderiam trabalhar em benefício de seus irmãos encarnados e disse, também, que a nova religião se chamaria umbanda.” (Oliveira, 2013, p. 5). Quem a criou foi o caboclo das Sete Encruzilhadas que recebeu o nome de Tenda Espírita Nossa Senhora da Piedade, pois essa seria uma Tenda de acolhimento para que todos os que precisassem e recorressem a ela.
Por existirem algumas discordâncias nas informações apresentadas, acredita-se que não se possa ter certeza que de fato foi Zélio de Moraes quem fundou a Umbanda e que essa história seja totalmente verdadeira. Ou que não passe de um mito. Mas, para um grupo significativo de umbandistas, a data em que supostamente ocorreu o surgimento da religião, teria marcado uma importante separação entre a macumba e a umbanda. Pois, as duas já foram relacionadas como iguais. Porém, a macumba estava relacionada com o “baixo espiritismo”, que nem sempre significa a prática do bem e de objetivos íntegros. Já, “o espiritismo de umbanda” teria como motivo principal o amor ao próximo e a prática da caridade. (Oliveira, 2013)
É relevante mencionar que mesmo um século depois de ter dado início a Umbanda, ainda existe um grande preconceito, onde um dos motivos é a relação que ainda é feita da Umbanda relacionada à Macumba, Mas, como se pôde observar, são diferentes. E possuem objetivos que ainda mais as diversificam.
Eu entrei na umbanda por uma dor, uma necessidade, e foi nela que me encontrei
"Não há fé inabalável senão aquela que pode encarar a razão face a face, em todas as épocas da Humanidade."
— Allan Kardec
Kátia Zardo é professora do Instituto Federal Farroupilha campus Frederico Westphalen. Uma pessoa comum que sofre de uma doença séria que por muitas vezes passa como algo banal na nossa sociedade: Depressão.
A primeira vez que Kátia sofreu com esta doença foi em 2004 durante a graduação, onde ela sofreu um assalto e em consequência deste fato passou a ter crises de pânico. Tudo aconteceu dias antes do fim do ano letivo. Por não conseguir fazer as provas Kátia reprovou e acabou perdendo o mestrado.
É a quarta vez que ela tem reincidência com a doença. Por determinados fatores, para Katia, alguns situações de estresse, esgotamento emocional e trabalho excessivo fazem com que os sintomas da depressão voltem.
No caso dela, não são somente dores emocionais. Pois ela também sofre de dores físicas, como por exemplo, dores de cabeça, dores no corpo e crises de amnésia.
Um dos fatores que contribuiu muito para que Kátia conseguisse lidar com os sintomas de depressão foi, segundo ela, a doutrina espírita. Muito do estudo, do trabalho de amor e caridade realizada na casa espirita, bem como todo amor recebido pelos demais trabalhadores, contribuiu para alavancar a melhora dela.
Apesar de ser final de semestre e consequentemente um momento com muitas tarefas, o que faria com que alguns sintomas que desencadeiam a depressão em Kátia voltassem, a mesma afirma que ela está tão bem que não consegue se sentir esgotada. Graças a fé na doutrina espírita em conjunto com o acompanhamento psicológico.
- "Nas quartas-feiras quando venho para cá (casa espirita), mesmo tendo trabalhado o dia inteiro eu não venho por obrigação e sim por prazer. É um sentimento de paz”.
“A doutrina espírita é a minha vida e sei que quanto mais eu evoluir moralmente menos crises vou ter”
-Kátia Zardo
Na Europa do século XIX, mais precisamente nas terras francesas, mesas se mexiam e vozes estranhas eram ouvidas, e neste cenários pessoas se reuniam para observar aqueles fenômeno estranho. E apesar de gerar um grande divertimento para muitos, para outra parte das pessoas aquilo tudo era um grande enigma. Aquele fenômeno reunia pessoas de todas as partes da Europa em busca de mensagens, até então desconhecidas. Naquele momento entre dois polos: o da religiosidade mística e as ideias cientificistas e positivistas (ARRIBAS, 2008), encontrava-se Allan Kardec, reconhecido como o codificador, ou seja, o espirita.
Ele não pretendia contrariar as descobertas da ciência, no entanto, não ficou silenciado sob a onda espiritualista que estava presente no momento. Kardec parte da ideia de que fenômenos sobrenaturais não existem, o que sustenta a sua teoria. Sendo assim “o espiritismo poderia ser enquadrado como uma nova ciência [...], uma vez que o seu objeto não era a matéria, mas o espírito” (ARRIBAS, 2008). Contrariando as suposições sobre a presença de espíritos na época, Kardec desfez a ideia de mistério e levou a discussão para o campo da ciência.
Após essa pequena introdução sobre a Doutrina Espirita, passamos para a entrevista realizada com Kátia Zardo, parte integrante da casa espirita Allan Kardec de Frederico Westphalen. No entanto, é necessário destacar que a divisão de cargos, como o de presidente, vice-presidente, tesoureiro, etc, existe por uma questão burocrática. O trabalho em si é feito com base na união, há sempre muito diálogo antes de tomar uma decisão.
Kátia já frequenta há mais de 10 anos casas espíritas. Porém, há sete anos ela começou a estudar a doutrina, no início na Sociedade Espirita Joanna de Ângelis e agora na Sociedade Espirita Allan Kardec. Ambas casas espiritas federadas. Nestes casos, por serem federadas elas seguem as normas da Fergs (Federação Espírita do Rio Grande do Sul) e da FEB (Federação Espírita Brasileira). Quando ela começou a trabalhar em Frederico Westphalen, conta que só havia uma pessoa trabalhando na casa, e foi com muito trabalho e amor que foi possível reerguer a casa. Sendo que hoje possuem até uma biblioteca, que conta com um vasto número de livros.
Kátia ainda salienta que desde que chegou em Frederico Westphalen ela percebe que o preconceito da população para com o Espiritismo tem diminuído bastante. Percebe-se isso pois muitas pessoas os procuram na Feira do Livro que ocorre no município.
É um sentimento de paz
O benzimento é um dom
Ao vê-la, Jesus a chamou e disse-lhe: Estás livre da tua doença, impor-lhes as mãos e no mesmo instante ele se endireitou``. (Lc 13, 12-13).
Curar pela fé. É isso que faz diariamente o benzedor Fausto Machado César, 87 anos, morador do bairro Fátima em Frederico Westphalen/RS que atende em sua residência, sem hora marcada.
Fausto que benze desde criança, recebe pessoas de todos os lugares, sem olhar quem são. Ele conta que atende aos pedidos de quem o procura por acreditar na prática de benzer e na cura pela fé. Em seus benzimentos faz uso do rosário, fazendo com este suas preces sobre o fiel, invocando a cura.
O benzedor faz inclusive benzimentos a distância, como foi o caso de um morador do estado do Mato Grosso. Segundo Fausto, a pessoa havia feito uma cirurgia e estava com hemorragia:
- "A esposa dele ligava de lá para a vizinha, que vinha aqui e pedia para eu benzer. Dali uns 15 minutos já ligam de novo que já tinha parado``.
O médico generalista Dr. Ruvie Henrique Caovilla Bossoni, de Frederico Westphalen, faz algumas orientações quanto a importância da fé. Segundo o médico:
-“Existem os problemas de saúde em que é necessário o uso de medicamentos. Mas também é importante ter a fé como aliada. Por isso que muitas vezes o paciente pede para fazer uso de tratamentos em que acredita, como terapias e outros``.
No processo em que a pessoa está em tratamento, é preciso cautela, como diz o Dr. Ruvie, ´´o paciente tem aquele esperança... quando ele deposita no médico, na medicina, ele tem a esperança da cura. Mas há certas coisas que, às vezes, é difícil de dizer para a pessoa, que está totalmente curada, como é o caso do câncer``.
Mesmo com todas estas possibilidades que um paciente pode ter para tratar suas necessidades, é importante não deixar de usar os medicamentos tradicionais. Como destaca o médico: ´´porém uma ressalva, nunca abandone o seu tratamento``.
Aliar a saúde e a espiritualidade não é algo tão incomum assim. Tanto a medicina quanto a crença popular, seja através da fé em suas diversas possibilidades, religiões, espiritismo, doutrinas, crenças ou outras formas de alcançar a cura são importantes.
Assim se tem a figura do benzedor, curador ou simplesmente rezador. Esta é uma atividade muitas vezes considerada curandeirismo, destinada a curar uma pessoa doente, aplicando sobre ela gestos, em geral acompanhados por alguma erva com pretensos poderes sobrenaturais. Ao mesmo tempo em que se aplica uma prece. Constitui-se num importante elemento da cultura popular do Brasil e tem suas origens no sincretismo religioso, reunião de doutrinas diferentes.
Mesmo que a medicina tradicional advirta quanto a fé como forma substituta ou complementar de tratamento, ainda assim a o benzedor continua atendendo as pessoas e está presente na vida daqueles que recorrem a eles para atender seus pedidos baseados na fé.