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“Jesus disse: Vai, a tua fé te curou” (Mc 10,46)

   - Fiz um propósito. Não vou mais trabalhar. A vida é tão curta. Vou começar ser mais firme na religião. Pra começar vou ter que ir na missa todos os dias.

   Essa foi a decisão tomada por Mário Luiz Sponchiado, aposentado de 71 anos, em meio ao tratamento que precisou passar para superar um câncer de esôfago. Com o semblante marcado pela luta que travou por vários anos e pela emoção ao falar de sua cura, Mário demonstra a importância da fé em sua história.  

    Veja o breve relato no vídeo:

   Como o próprio Mário diz, ele era um católico de pouca vivência religiosa. Fazia suas orações esporadicamente, algumas promessas, ia na missa no domingo pela manhã, com pouca frequência e quase nada entendia. Ficava mais esperando a hora passar pensando no churrasco que prepararia em seguida. 

   Até que em 2010 passou por um momento de grande sofrimento junto com sua família. Perdeu um filho em acidente de trânsito. Na tristeza, Mário encontrou na espiritualidade uma forma de enfrentar o vazio que a perda deixou.  

   - "A oração foi a forma que encontrei para superar a perda do filho. De dia até passava, mas de noite, quando me acordava, vinha a lembrança. Então o que fazer? Era pegar o terço e rezar. Rezar".

   A partir disso, este pai que chorava a ausência do filho foi se habituando a oração constante. Hábito que foi aprofundado com outros sofrimentos que vieram. Dois anos após a perda fatal, outro acidente de trânsito veio marcar a vida dessa família. 

   Já começando a se envolver em atividades da Igreja, Mário, que sempre morou em Frederico Westphalen, estava em Passo Fundo, de onde iria embarcar para um encontro do Movimento Serra em Aparecida - São Paulo. Ali foi a vez dele mesmo ser a vítima. Em uma colisão de seu carro Mário teve como consequência a fratura de uma vértebra da coluna e esmagamento de outra. 

   Com essa fratura, teve que ficar seis meses “de molho”. Apesar do sofrimento e do perigo de não ter uma plena recuperação, foi um tempo visto com aspectos positivos. - "Com o tempo livre li muitos livros religiosos. Lia bastante a Bíblia. Rezava bastante pois era uma saída que encontrava".

  Precisando ficar em Passo Fundo, Mário se aproximou de um colega do Movimento Serra chamado Nelson, que o acolheu em sua casa para o tratamento necessário. Nelson era tesoureiro do Hospital São Vicente. Isso foi visto por Mário como providência para a batalha que viria a enfrentar mais tarde, na qual o amigo ajudou bastante pela facilidade de acesso ao Hospital, referência de tratamento de saúde na região. 

   O problema na coluna fora apenas uma prévia do que viria. Em 2013, ainda não bem recuperado da perda do filho e da fratura sofrida, em tratamento com o Dr. Paulo Savaris, em Frederico Westphalen, Mário recebe a drástica notícia de que pode estar com câncer no esôfago.

  Acompanhe no vídeo o que o médico diz a respeito desse caso e da importância da fé no tratamento:

"Então o que fazer? Era pegar o terço e rezar. Rezar..."

        -Mário Luiz Sponchiado

    

   Assim o tratamento foi feito. Com significativos progressos. Até poder fazer a cirurgia para retirada do tumor. Cirurgia de risco, mas necessária. Era a esperança de cura. O paciente estava debilitado, tinha perdido ao menos 10 Kg. 

   Aproximava-se o dia da cirurgia. Mário é encaminhado para um quarto no Hospital São Vicente. Mas, o quarto em que ele iria estava ocupado. O que para muitos teria sido um erro na organização do hospital, para Mario, agora um homem de bastante fé, foi também uma providência de Deus. Pois ele foi encaminhado para outro quarto, em outro andar do hospital. Justamente no andar onde o padre capelão do hospital, naquele dia, fez as visitas. Era o dia anterior a cirurgia. 

   O padre fez a oração, invocando a benção e a proteção de Deus para a cirurgia. O Mário também quis se confessar. E diz o quanto isso lhe fez bem: - "Isso me ajudou. Naquele momento fiquei bastante tranquilo. Por mais que tu acredita, que reza... dá um frio, o risco existe. Mas fiquei tranquilo". 

   Essa tranquilidade foi fundamental. Contudo, na cirurgia, quase ocorreu uma fatalidade.

Ouça o áudio em que o próprio Mário relata o que aconteceu e o quanto sua experiência de fé fez a diferença:

  O encaminhamento do tratamento, biópsia e demais exames é feito em Porto Alegre. A expectativa e a esperança era poder fazer cirurgia e não deixar o câncer “crescer”.  E o Mário precisa começar a enfrentar aquele que para ele era o mais difícil dos inimigos, como ele mesmo pensava: - "Antes de eu ficar doente eu dizia: se a pessoa tem câncer, tá decretada a morte. Se curou, não era câncer. Essa era minha teoria".  

   Por isso, antes de viajar, ele foi procurar um padre, no seminário, para fazer sua confissão. E assim fez, na capela, em frente ao Santíssimo Sacramento, o que para o Mário foi um sinal da benção de Deus para o tratamento que estava iniciando. Contudo, o começo não foi muito animador. Não foi possível fazer a cirurgia, o tumor já estava enraizado internamente no esôfago. Seria preciso fazer um longo tratamento. A previsão do médico foi de 50% de chance de recuperação. 

   Porto Alegre ficaria muito distante para o longo e desgastante tratamento necessário. Passo Fundo era mais próximo. Aqui a amizade com o Nelson, construída em função do acidente relatado acima, se tornou providencial. Todos os encaminhamentos para o tratamento seguir em Passo Fundo foram feitos. Marcadas radioterapia e quimioterapia. A hospedagem seria no amigo Nelson. 

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   Mário demonstra uma grande confiança, com maturidade. Entende que a fé não age de forma mágica, mas que contribuiu e pode ser decisiva no tratamento, gerando tranquilidade, paz de espírito, confiança, condições que ajudam muito na recuperação. Após um breve tempo de recuperação no hospital, a volta para casa. Também esse foi um momento difícil, o organismo sentindo o desgaste do tratamento e da cirurgia. - "Não foi fácil em casa. Estava mal. Tudo atrapalhava. O que me fazia bem era ficar na cama e rezar". 

   Começando a receber visitas, Mário sentiu também a força da fé dos outros. Era a oração de intercessão. Muitas pessoas iam até o enfermo dizendo que estavam rezando por ele. - "Isso a gente sente. Senti que tinha uma força, assim, que as pessoas rezavam por mim". 

   Esse foi o momento em que Mário fez o propósito citado no início dessa história. E cumpriu com o propósito assim que melhorou o suficiente para ir até a Igreja. A fé o ajudou a superar a doença, ao mesmo tempo que a doença o aproximou mais da fé. Inicialmente a missa escolhida foi a da tarde, 18h. Mas não foi um horário que tenha agradado. E como no propósito de missa diária não havia horário estipulado, o agora fiel devoto Mário passou a ir na missa da manhã, às 7h30min, na Catedral. Todos os dias. 

   E isso lhe fez muito bem. Passou a entender melhor o sentido da missa. A oração, até então quase sempre de pedido passou a ser mais de agradecimento. E quanto ao câncer, sentia que estava curado. Já queria “levantar aos mãos pra cima”, mas o médico pedia cuidados, dizendo que não podia, ainda, dizer que estava curado. 

Realmente a preocupação do médico parecia ter sentido. Em 2018 exames apontaram problemas nos pulmões de Mário. Tudo indicava que seria novo câncer. Nova internação no Hospital São Vicente de Passo Fundo. Biópsia. Preocupação. Seria preciso passar por tudo novamente? Deixemos o próprio Mario dar a resposta, com toda a influência de sua fé: - "Então conversei com o Pe. Leonir, com o bispo, eles eram meus confidentes. Eles diziam: tua fé vai te curar, não vai ser nada. Fiquei esperando. Chegou o exame: eu não tinha nada".

   No vídeo, acompanhe o que o bispo D. Antônio Carlos conta sobre a história de fé do Mário e sobre a importância da espiritualidade para a saúde: 

   -"Mais ainda eu vou me agarrar em agradecer". Dessa forma Mario resume como se deu sua relação com a oração após tudo o que passou. Além da missa matinal diária, começou a rezar o terço antes da missa. Inicialmente sozinho, aos poucos outras pessoas foram se juntando a ele. E após a missa, fazia seu “roteiro” pessoal de devoção: Ia no Santíssimo, e também na Nossa Senhora, no Santo Antônio, e na pia batismal. Ia agradecer. 

   Com todas essas manifestações de fé, aquele que antes rezava mais por costume e precisou da oração dos outros, passou a ser procurado por muitas pessoas que ia lhe pedir orações. E ele rezava, com confiança. As experiência de perda e enfermidades fizeram ver o imenso valor da oração. Contudo, não foi só na oração que Mario cresceu. - "Quando decidi ir nas missas todos os dias, resolvi que precisava fazer obras também. Só rezar não adiantava".  

   Mario já dava contribuições esporádicas à instituições de caridade e religiosas. Mas depois de passar o que passou, começou a ver também isso de forma diferente. A partir de então dá contribuições mensais para a Liga de Combate ao Câncer e à Associação Frederiquense de Promoção do Menor (Promenor). Também ajuda no Seminário Diocesano. 

   

Além disso, a pedido do bispo, ficou responsável pela organização da liturgia nas missas diárias da manhã, e também aos domingos, no Seminário. Não foi só a cura que Mario alcançou, foi também um novo sentido para sua existência. 

   Porém, ainda faltava o veredito final, a palavra do médico. Faltava “levantar as mãos pra cima”. E isso aconteceu em 2019. - "Em abril voltei lá pra Passo Fundo fazer mais um exame, conversar sobre minha saúde. Não tinha nada, estava tudo bem. O médico puxou minha história e disse: agora tu pode levantar as mãos pra cima".    

   

Hoje Mario vive feliz e agradecido. Tem o compromisso do terço e da missa pela manhã, vive junto de sua família, ajudando a cuidar dos netos. E vê na sua cura bastante da mão de Deus, sem deixar de reconhecer a importância da medicina. Em sua definição um tanto matemática: - "A oração foi 50%, pelo menos. 50% foi a oração que me deixou bem, os outros 50% da medicina". 

    Enfim, Mario Luiz Sponchiado, após perdeu o filho, sofrer um acidente e superar um câncer, sente-se um vitorioso, pela força da fé: - "Estou curado. E vou agradecer mais ainda. Eu pedi, e Deus me deu, fez a parte dele. E eu estou aqui. Que eu seja útil pra alguém. Eu continuo, na minha fé". 

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Eu pedi e Deus me deu 

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